HISTÓRIA DE PROPRIÁ



Propriá, a princesinha do Baixo São Francisco
Conhecida inicialmente como Urubu de Baixo, cidade já foi a mais importante do Norte de Sergipe

“Propriá progressista, que ativo se expande/ Em todos dos ramos do humano trabalho:/ Que centro se fez de uma zona muito grande,/ No balcão, no arado, na pena e no malho;/ Propriá comerciante, banqueiro, fabril,/ Que fecha contratos de gêneros mil,/ Nas feiras, nas lojas e até nos cafés!/ E onde, indicando dos ventos o rumo,/ Das aves da indústria às asas do fumo/ No tôpo se agitam de dez chaminés...”

Este é um trecho do hino de Propriá. A autoria é do imortal João Fernandes de Britto, o doutor Britinho, jurista, historiador, poeta. Basta ler o hino completo que terá a história dos 200 anos de Propriá em mãos. Mas a ousadia permite ir mais além.

É ponto pacífico que antes da missão de ‘catequese’ dos jesuítas chegar às terras onde hoje são Propriá, os índios, chefiados por Pacatuba, tinham relação comercial com franceses.

O hoje município de Propriá e parte da região do Baixo São Francisco era conhecida com o nome de ‘Urubu’. Era um morro que foi dado por Cristóvão de Barros a seu filho, Antônio Cardoso de Barros.





:: Propriá: mais de 400 anos de história ::




URUBU DE BAIXO E FREGUESIA

A data da doação é de 9 de abril de 1590. O filho de Cristóvão morreu. Dona Guiomar de Melo, a viúva, repassou as terras a seu genro, Pedro Abreu de Lima. Este, depois da morte da mulher, cedeu terras aos jesuítas, aos carmelitas e aos filhos.

Pedro Gomes de Abreu, filho mais velho, foi morar numa região mais baixa do morro. Ela se transformou numa povoação e ficou sendo conhecida como Urubu de Baixo. Por conta do rio, das várzeas férteis e da proximidade com a vila de São Francisco, hoje Penedo/AL, Urubu de Baixo se desenvolveu assustadoramente.

A situação econômica era tão confortável que o arcebispo primaz do Brasil, dom Sebastião Monteiro da Vide, determinou que a povoação se transformasse em freguesia, libertando-se de Vila Nova do São Francisco, que é hoje Neópolis. Nascia em 18 de outubro de 1718 a Freguesia de Santo Antônio do Urubu de Baixo.

Graças ao Rio São Francisco, a freguesia se tornou um grande pólo de desenvolvimento do Norte. Em 1º de agosto de 1800, Antônio Pereira de Magalhães e Paços, ouvidor geral e corregedor da Comarca de Sergipe d’El Rei, apresentou um pedido ao capitão-general e governador da Bahia, dom Fernando José Portugal, para que transformasse a freguesia em vila.

DE VILA A CIDADE

Em 5 de setembro de 1801, o governador ordenou, em nome do príncipe regente, a transformação de Urubu de Baixo em vila. Uma grande festa foi realizada num domingo, dia 7 de fevereiro de 1802. Naquele dia foi construído um pelourinho de pau redondo em frente a Igreja de Santo Antônio como sinal de autonomia.

Transformada em vila, os moradores de Urubu de Baixo passam a chamá-la de Propriá. Não existe uma definição histórica para essa mudança, mas a maioria acredita que Propriá surgiu de uma pesca de Piau na lagoa de João Baía. Era tanto peixe que se pescava usando pau. Criou-se então a expressão ‘pesca do paupiau’. Outros dizem que o nome vem também da lagoa, mas a expressão seria ‘puropiau’. Depois Propriá. O que deve ter reforçado a mudança é que o nome Urubu não combinava com o progresso da ‘Meca’ do Norte.

Em 1828, a Princesinha do Baixo São Francisco sofre um grande golpe. Surge a Freguesia de São Pedro de Porto da Folha, e a Vila de Propriá fica apenas com 14 léguas - antes tinha 40. Quando se emancipou, Porto da Folha levou Canindé, Poço Redondo, Monte Alegre, Glória, Gararu, Itabi e parte de Canhoba. Mas isso não impediu o avanço de Propriá. Em 21 de fevereiro de 1866, a vila recebe a categoria de cidade.

DOM PEDRO EM PROPRIÁ

Em finais de 1859, o imperador Dom Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina chegam a Propriá através do Rio São Francisco. Foi ele quem idealizou a ponte, mas a queria em outra localização, passando por dentro da cidade. Parece que ele estava certo. Veja o que anotou dom Pedro em sua agenda: “Propriá é uma vila de 3 mil habitantes, com algumas casas boas e de sobrado, e uma fábrica ... de descascar arroz, com máquina de vapor...”.

Arroz, peixe, algodão, cana-de-açúcar e uma enorme feira regional. Propriá era um centro industrial e comercial tão forte que só perdia para Aracaju. Por conta disso, todos os outros setores da sociedade cresciam. O padre Antônio Cabral, vigário da cidade, recebendo três freiras de Portugal, resolveu construir um colégio para meninas. Boa parte dos recursos para a construção da escola foi doada por João Fernandes de Britto. Nasce o Colégio Nossa Senhora das Graças, que começou a receber meninas das famílias tradicionais de Sergipe.

O mesmo padre Cabral, em 1908, também foi o responsável pela construção do Hospital de Caridade São Vicente de Paula. Essa casa de saúde também atraiu gente de todo o Estado.

INDÚSTRIA E PROGRESSO

A partir de 1914, a indústria ganha força em Propriá. Naquele ano foram inauguradas uma série de usinas de beneficiamento de arroz, como também fábrica têxtil, de óleo e indústria de calçados. A indústria e o comércio passaram a atrair mão-de-obra de todo Sergipe e de Alagoas.

Dois grandes eventos marcaram a progressista Propriá em 1920. Primeiro a inauguração do último trecho da ferrovia que ligava Sergipe a Salvador. O segundo é a chegada da energia elétrica. Isto é, a energia foi fundamental para as atividades do município.

O fabuloso progresso de Propriá exigiu casas bancárias. Em 1931 foi inaugurada a primeira instituição financeira do município, uma filial do Banco Mercantil Sergipense S.A. O primeiro gerente, Moacir Rabelo Leite.

Durante a interventoria do major Augusto Maynard, também em 1931, foi inaugurada a rodovia que ligava a cidade de Propriá a Aracaju.

APOGEU E DECADÊNCIA

Propriá chegou mesmo ao apogeu entre as décadas de 40 a 60. Chegou a responder por 57% das vendas totais da região. O município passou a ser conhecido nacionalmente através das músicas de Luiz Gonzaga, amigo pessoal do prefeito Pedro Chaves. A cidade chegou a ter até uma agência da Varig. Isso mesmo, era constante o fluxo de hidroaviões que faziam o transporte de passageiros. Na década de 60, Propriá tem um campo de pouso. Vale lembrar ainda o 12 Tênis Clube e a Sociedade Recreativa Cavaleiros da Noite.

As grandes enchentes do rio que inundavam a cidade e as festas de Bom Jesus dos Navegantes também marcaram a história de Propriá. A fantástica longa passagem do mineiro dom José Brandão de Castro pela recém-criada Diocese de Propriá, em outubro de 1960, também merece toda atenção histórica. A curiosidade é que um filho de Propriá, o padre Antônio Cabral, mais tarde foi ser bispo em Belo Horizonte/MG. Dom José Brandão, primeiro bispo, foi um incansável lutador pela cidadania e em especial para que os mais pobres do Baixo São Francisco tivessem direito à terra. Dom Brandão e sua diocese enfrentaram os poderosos de Propriá e de Sergipe.

As sucessivas perdas territoriais e do comando administrativo, o surgimento de novos centros locais e regionais, a perda da importância do transporte marítimo, a atenção voltada apenas para o rodoviário, trágicas administrações públicas, entre outros fatores, colaboraram para a decadência e estagnação do município.



Jequitibá de Propriá

Pedro Chaves, nascido em junho de 1900, teria completado 100 anos. Ele foi prefeito de Propriá e deputado. Ergueu o obelisco em comemoração aos 150 anos da emancipação política da cidade. Foi o primeiro a dedicar uma praça no Brasil com o nome de Luiz Gonzaga, seu amigo. Pedro Chaves foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento de Propriá. A seguir um texto de Carlos Britto, outro filho de Propriá.

“Pedro Chaves foi o maior líder político-municipal com quem pessoalmente convivi, nos anos 50 e 60 do século XX. Morávamos no município de Propriá, que era o centro regional de pelo menos dez unidades municipais dos Estados fronteiriços de Sergipe e Alagoas, a congregar uma população em torno de 80 mil almas.

A que deve essa liderança comunitária sem par? Creio que, primeiramente, ao carisma de que Pedro Chaves era portador. Homem de posses rurais e urbanas, alto, olhos claros, cabelos brancos, tez avermelhada, sorridente, festeiro, bem-vestido para os padrões da época (ora a trajar um terno, ora a se apresentar de paletó-esporte), chamava a atenção por onde passava. Era, portanto, um homem comunicativo e de bela estampa, numa sociedade de pessoas que, no atacado, se caracterizava pela introversão, baixa estatura, traços fisionômicos pouco favorecidos no plano estético e acanhado padrão de vida.

Outra razão da liderança ímpar de Pedro Chaves era a sua prestimosidade. Ele gostava de servir à sua gente e se notabilizava por empréstimos financeiros sem juros, avais e fianças bancárias, doação pura e simples de dinheiro a pessoas reconhecidamente pobres.

Um terceiro motivo de prestígio social do homem a quem me reporto eram as suas amizades com influentes políticos e religiosos da região, além de uma notória relação de apreço mútuo com Luiz Gonzaga, o ‘Rei do Baião’. Todos visitavam Pedro Chaves em sua famosa Fazenda ‘Cabo Verde’, que se fazia palco de incomparáveis ‘arrasta-pés’ para as famílias bem-postadas da sociedade local.

Enfim, Pedro Chaves decidia, com seu apoio pessoal, as eleições municipais e influía nas eleições para importantes cargos políticos estaduais, tendo sido, ele mesmo, eleito deputado e chefe do Poder Executivo de Propriá.

Este o meu depoimento acerca de um homem que marcou época. Era um líder do tipo ‘populista’ - falariam sociólogos e analistas políticos de hoje -, mas com uma grande diferença ética: não oprimia ninguém, não exigia vassalagem de quem quer que fosse, tornava a atender a quem dele se servira sem a paga sequer da gratidão.

Guardo de Pedro Chaves a imagem de um jequitibá a se erguer na paisagem ensolarada da minha Propriá”.

(*) Carlos Ayres de Britto é jurista, poeta e membro da Academia Sergipana de Letras. Assumiu na academia a cadeira deixada por João Fernandes de Britto, o doutor Britinho.



Outras figuras ilustres

Propriá teve mais de uma centena de figuras ilustres e de projeção nacional. Algumas:

José Rodrigues da Costa Dória - Doutor em Medicina, professor, deputado federal por Sergipe de 1908 a 1911, membro da Academia Nacional de Medicina, foi presidente de Sergipe.
Dom Antônio dos Santos Cabral - foi bispo de Natal/RN e de Belo Horizonte/MG.
Luiz José da Costa Filho - jurista, jornalista, poeta e foi deputado estadual.
Monsenhor Marcolino Pacheco do Amaral - jornalista, poeta e autor do ‘Compêndio de Teologia Moral’.
Seixas Dória - outro filho ilustre de Propriá que chegou ao Governo do Estado na década de 60.


Propriá hoje

Região - Norte de Sergipe
Distância de Aracaju - 98 km
População - Cerca de 85 mil
Atividades econômicas - Arroz e peixe



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Texto: GABRIEL DINIZ
Fonte: Propriá é sua região.
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Colaboração Família Chaves.

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